Carta Aberta de Manuel de Araújo ao Presidente Filipe Nyusi

Depois de Nini Satar ter escrito uma série de 3 cartas endereçados ao Chefe do Estado, agora foi a vez de Manuel de Araújo escrever a sua primeira carta também endereçado ao Presidente da República, Filipe Nyusi.

Confira a carta completa:

Sua Excia Filipe Jacinto Nyussi,
Presidente da Republica de Moçambique,

Excia,

Esta e a primeira carta que me digno a escrever-lhe na minha cívica qualidade de cidadão comum, residente no Município de Quelimane, que em virtude da proclamação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional, tenho em si, o Presidente da jovem nação!

Escrevo-lhe, para partilhar com V.Excia o que me vai na alma, e suponho, o que vai na alma de alguns, mesmo que poucos moçambicanos!

Excia, perdoe-me se o ofender, mas essa não é minha intenção, pelo contrário!

Dizia eu, Excia que apesar da forma como decorreram as eleições de 2014, sou daqueles que aceitaram a ‘verdade’ legal e material emanada pelo Conselho Constitucional! Assim sendo, considero-o como o mais Alto Magistrado da Nação, pai de todos os moçambicanos e aquele que deveria ter de facto e de juri ‘um coração onde caberiam todos os moçambicanos’!

Infelizmente Excia, depois de ter proferido aquele que considero ter sido o melhor discurso alguma vez feito por um Chefe de Estado Moçambicano desde 1975 (sou leitor e coleccionador de discursos de Chefes de Estado), tenho notado que, salvo raras vezes, o Chefe de Estado tem-se distanciado cada vez mais desse discurso ou como os Bispos Católicos souberam colocar, notam-se ‘incoerências entre o discurso e a praxis’!

Excia, no seu discurso de tomada de posse (que recomendo que o releia e convoque uma sessão de estudo do Conselho de Ministros extensivo aos Governadores Provinciais e Embaixadores de Moçambique no exterior), soube ser o pai de todos os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do ao Indico!

Nesse histórico discurso (só para lhe reavivar a memoria, pois sei que a Sua Agenda não lhe tem dado muito tempo para rele-lo), Excia disse inter alia, o seguinte (em 10 pontos):
1-‘Que naquele dia, iniciávamos uma importante etapa do nosso percurso histórico como Povo e como Nação” que levaria “Moçambique a um novo patamar de Harmonia e Desenvolvimento (e colocou as palavras harmonia e desenvolvimento em letras maiúsculas).
2-Que era com elevada honra e a maior humildade que ‘assumia a Alta Magistratura do Estado e da Nação’…
3-Que saudava a todos os moçambicanos pela sua participação no sucesso da democracia e que naquele momento, pouco importava a ‘opção politica, ideológica ou religiosa de cada um’. Reafirmou que assumia as funções como ‘Presidente de todos os moçambicanos, disposto e disponível a escutar todos os sectores da opinião publica’. Sublinhou que ‘O povo’ (em minúsculas) era o seu ‘patrão’ (também em minúsculas) e que o seu compromisso era de servir o povo moçambicano como seu ‘único e exclusivo patrão’. Disse que o seu ‘compromisso é de respeitar e fazer respeitar a Constituição e as Leis de Moçambique e que estava pronto e confiante que, ‘juntos, iriamos construir o bem-estar do nosso povo e um futuro risonho para as nossas crianças.
5-Afirmou Excia que representava ‘uma nova geração, uma geração que recebe um legado repleto de enormes sucessos e de exaltantes desafios. Recordou-nos que repousava ‘sobre todos nós, de todas as gerações a responsabilidade de preservar as conquistas alcançadas pelo nosso povo..’.
6-Sublinhou que ‘a riqueza desse legado histórico’ fundamentava-se em três conquistas principais:
-A Independência Nacional (…)
-A Unidade Nacional (…)
-A Paz, condição primária para a estabilidade politica, desenvolvimento económico, harmonia e equidade social.
7-Afirmou que era (…) preciso consolidar a Paz como um valor presente na vida de cada cidadão, cada família e em todos os cantos do território nacional. Que deveria ser ‘inabalável a certeza de que nunca mais os moçambicanos viverão sob a ameaça do medo e o espectro das armas’ e convidou a ‘todos actores sociais, desde a família, as confissões religiosas, sociedade civil, os partidos políticos, as instituições de ensino e de pesquisa, a participar activamente na educação dos cidadãos e na consolidação de uma cultura nacional de dialogo e de harmonia.
8-Afirmou que como Chefe de Estado primaria pela ‘abertura ao diálogo construtivo com todas as forcas politicas e organizações cívicas para promover a concórdia. Assegurou-nos que poderíamos estar certos (…) que tudo faria para que, em Moçambique, jamais, irmãos se voltassem contra irmãos fosse a que pretexto fosse.
9-Jurou defender de forma vigorosa os direitos humanos, em particular o direito a vida e as liberdades fundamentais do homem.
11-Reconheceu que (…) ‘a construção de uma sociedade de inclusão exigia não apenas discursos e declarações de intenções’. Prometeu trabalhar para tornar ‘mais visível e real a inclusão de que todos falamos e tanto ansiamos. Prometeu que estaria aberto a acolher propostas e ideias de outros partidos visando a promoção da tranquilidade e desenvolvimento do Moçambique. Reafirmou que as boas ideias não tinham cor partidária e que as boas ideias tinham uma única medida, que e o amor pela nossa pátria e pelo nosso destino comum (…)

Excia, como pode ver estas palavras não são minhas! São de Vossa Excia e nao as disse em surdina, mas sim na cerimónia mais importante da vida de Vossa Excia e na presença não só de milhares de moçambicanos mas também de a dos órgãos de soberania, e de altas figuras de outros países, portanto estas palavras Excia, fazem parte do juramento que solenemente fez e testemunhamos, por isso, tem a obrigação de cumpri-lo a risca! Ouvimo-lo ler este discurso e saudamos vossa Excia pela coragem! Que saibamos, ninguém obrigou vossa Excia a ler este discurso! Tendo já ganho as eleições, poderia não ter lido discurso nenhum ou até poderia ter lido um discurso contrário ao que leu! O que não aceitamos e que nos venda raposa por lebre, porque não fui eu quem disse que ‘estava pronto’ para o desafio! Senão vejamos:

Excia disse que o povo era seu patrão e que no seu coração cabiam todos os moçambicanos! hoje vemos que afinal de contas o seu coração e tao pequeno que so cabem os seus amigos e filhos e filhas deles, os amigos e familiares da sua estimada esposa, os amigos dos CFM para alem dos amigos do velho Chipande!

Prometeu inclusão, e o que temos e exclusão! O seu governo e uma prova do que acabo de dizer!

Prometeu respeitar os direitos humanos especialmente o direito a vida, mas parece que há moçambicanos da primeira com direitos e da segunda sem esses direitos! Os vídeos que a TIM e a STV nos tem mostrado sob o cúmplice silêncio da Comissão Nacional dos Direitos Humanos são disso prova!

Apos os incidentes de Manica dia 7 de Setembro e 25 de setembro e da Beira a 9 de Outubro de 2015, esperávamos ver o seu coração a lacrimejar pelas vidas ceifadas e que jurou poupar mas ouvimos apenas o rajar do seu silêncio ensurdecedor!

Disse que se ajoelharia para manter a paz mas na reunião com os Bispos fez lembrar que como Presidente queria que fossem os outros a se ajoelharem perante si!

E finalmente quando a conferência episcopal lhe mostrou o que ia mal, ao invés de escutar e agradecer como prometera no seu discurso inaugural, ripostou dizendo que sabia o que estava mal e queria eram os caminhos para a solução dos problemas!

Excia, por mais falhas humanas que tenhamos, registe-se que a Diplomacia Católica e a mais velha instituição diplomática vigente! Cumpre-nos como humanos, sabermos ouvir os seus recados e antes de respondermos as irritações cutâneas de momento urge que saibamos consultar os nossos Conselheiros, Assessores e Assistentes pois eles são pagos para isso mesmo: para o Aconselharem, Assessorarem-no e Assisti-lo para que possa cumprir com aquilo que eles escreveram e ‘mandaram’ ler no dia da Tomada de Posse!
A PAZ não se preserva e nem se busca em televisões publicas! O PR foi a reunião com os Bispos ‘despreparado’! Não leu os dossiers que Chissano e a ’10 de Novembro’ tem sobre o papel da conferência Episcopal na busca da Paz em Moçambique, não leu as Cartas dos Bispos dos últimos 40 anos e não se apercebeu da presença de Dom Jaime entre os presentes! Os seus conselheiros não fizeram o TPC, não lhe explicaram o contexto e muito menos o prepararam para o embate que viria! O resultado foi o circo que se viu, com o PR a mandar recados via imprensa, e pior a contradizer-se em duas ocasiões num mesmo discurso (há duas semanas dissera ele próprio que as conversações estavam bem encaminhadas, ontem veio dizer que falava com crianças do lado da Renamo e a Chefe de Bancada da Renamo já o havia tirado o tapete dias antes! Como e que um Chefe de Estado ‘desdiz-se’? Afinal há dialogo ou não há senhor Presidente?
O Chefe de Estado e seus Conselheiros não perceberam que os Bispos vinham dizer que nos podemos ajudar? Que se não consegue falar com Dhlakama nós conseguimos? Ou seja que a solução passava pelo envolvimento de mediadores sérios e capazes e que esses mediadores estavam ali mesmo naquela majestosa sala a dois metros do Chefe de Estado. O chefe de Estado não viu a solução, ou não quer?

NB. Qual e a imperiosidade de ir a Angola quando o país esta para arder? A coincidência desta visita com a Declaração Oficial de Guerra feita pelo Ministro do Interior no Parlamento e repetida várias vezes pelo Comandante Geral da PRM, significa que a opção da estratégia Savimbi vincou? E mais, onde esta a nossa auto-estima? Nos nossos 40 anos de Independência, Angola mandou o seu vice-Presidente! Será que o nosso PR se equivale ao Vice Presidente de Angola? E que em diplomacia reina o principio da reciprocidade! Não avisaram ao Chefão? O Ministro do Interior e o comandante da PRM cumprem ordens do PR ou do PR Sombra? Será esta a prova material que faltava no discurso dos bispos sobre a ‘incoerência entre discursos e ações praticas’

Ainda tenho esperança de que V. Excia recuperara a prática e o espírito do Discurso de Tomada de Posse e saberá aproveitar a oportunidade oferecida pela Conferência Episcopal de Moçambique.
Sem magoas,

Atenciosamente,

Manuel de Araújo
Cidadão Comum Residente no Município de Quelimane

2 comentários em “Carta Aberta de Manuel de Araújo ao Presidente Filipe Nyusi”

  1. Sera que nao percebem que enquanto a frelimo estiver no poder isto nao vai melhorar? Sera que nao percebem que estamos perante a devoradores sem piedade de leis, de regras,de humanidade,do povo,da democracia,da cultura, da paz. Isto nao vai parar por mais que entre um presidente que se mostre serio passados semanas vai dancar a musica da frelimo ” comer enquanto puder e calar a boca” mais nao disse.

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  2. Quero saudar ao Professor Manuel De Araújo pelo tempo, coragem e espírito de patriotismo ao escrever esta carta ….

    Mas a verdade é bem clara, estes homens são hipócritas, não tem cultura de honrar com os seus dizeres e nunca se sentem responsáveis por tudo que dizem e é por isso ultimamente não há vergonha em aparecer nos mídias e falar de qualquer maneir …

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