Dhlakama Quebra o silencio e diz que o país não está em guerra

O líder da Renamo quebrou o silêncio ao qual se tinha remetido desde que a sua residência em Sathunjira foi atacada pelas forças governamentais em Outubro último, o que o obrigou a abandonar o local, e concedeu uma entrevista ao semanário Canal de Moçambique, no qual afirma que o país não está em guerra e que o seu alvo são os militares. “Eu gostaria que declarássemos um cessar-fogo entre Muxúnguè, Chibabava, minha terra, até ao rio Save porque aquilo não é nada; é só um negócio sujo… não serve para nada”.
Dhlakama não é visto e nem dava entrevistas desde 21 de Outubro passado, quando as forças governamentais atacaram a sua residência em Sathunjira, obrigando-o a abandonar o local para parte incerta, na companhia do secretário-geral da Renamo e deputado da Assembleia da República, Manuel Bissopo. Entretanto, esta segunda-feira em entrevista concedida àquele semanário, ele contou que, neste momento, se encontra num local que dista poucos quilómetros de Sathunjira.
Na entrevista, o líder da “Perdiz” afirma que a actual tensão política que já vitimou dezenas de pessoas, entre militares e civis, “não serve para nada” e explica ainda que os ataques que se registam na região centro do país têm como alvo os militares “porque a maioria que escraviza o centro e o norte provém da região sul”. “Vêm (os militares) para paralisar ou matar os chingondos”, considera. Assim, defende, os civis devem saber que no troço rio Save-Muxúnguè passa a logística de quem vai atacar Sathunjira e Dhlakama. “A Renamo não ataca civis, ataca militares”, sentencia.
Não obstante essa situação, o líder da Renamo mostra- -se convencido de que a paz, actualmente ameaçada, poderá retornar ao país até Fevereiro do próximo ano. Citado no semanário, ele afirma que a guerra dos 16 anos levou muito tempo porque não havia investimento estrangeiro. “Hoje, a comunidade internacional não vai permitir que alguém entre para destruir um, cinco, dez biliões de dólares investidos antes de haver retorno”, assegura, fazendo referência às empresas multinacionais envolvidas na prospecção e ou exploração de recursos minerais no país.
Guebuza quer matar-me
Afonso Dhlakama, ora em parte incerta, não tem dúvida de que o Presidente da República, Armando Guebuza, está interessado na sua morte; aliás, afirma categoricamente que o ataque efectuado à sua residência em Sathunjira, a 21 de Outubro passado, visava o seu assassinato. Ele afiança o que os seus “seguidores” sempre defenderam desde que aconteceu o ataque: que Guebuza ordenou o ataque para assassiná-lo. Diz ainda que o Chefe de Estado está agora envergonhado porque não logrou os seus intentos.
“Foi uma tentativa de praticar um crime, mas agora está envergonhado por estarmos vivos e estamos a reagir numa altura em que ainda somos alvos a abater”. Aliado a isso, Dhlakama discorda com veemência da ideia de que a sua eventual morte poderia significar o fim da Renamo, o maior partido da oposição, e defende que tal facto apenas iria “acelerar a revolução”, uma vez que ele tem generais mais novos que tomariam as rédeas da situação.
Diz o líder da Perdiz que tal como a morte do fundador do partido, André Matsangaissa, não significou o fim do partido, o seu desaparecimento não teria também essa consequência. “A morte de Dhlakama deixou de ser um perigo que possa ditar o fim da Renamo”.

“Não faço as pazes com Daviz Simango”

 

Dhlakama afirma não ter razões para fazer as pazes com o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), muito menos com o seu presidente, Daviz Simango, mas considera a hipótese de isso acontecer “no dia em que ambos, humildemente, se ajoelharem porque ofenderam muitas pessoas…”. De acordo com Dhlakama, foi ele quem “meteu” o dirigente do MDM, Daviz Simango, na vida política e fê-lo contra tudo e todos. Acusa-o ainda de ter estragado “tudo” por causa da “ganância pelo poder”.
“Ele fez o que fez, falcatruas, começou a estragar tudo. Pronto. E em 2008 dissemos que já não podia continuar como candidato”. No entender de Dhlakama, o MDM e os seus candidatos só conseguiram ganhar nas três cidades porque a Renamo não entrou na corrida e as pessoas, não querendo a Frelimo, no poder, optaram pelo “Galo”.
“No dia em que o Dhlakama andar a mobilizar as pessoas, o MDM vai ficar no zero”, disse o presidente da Renamo, para quem os membros do MDM já foram membros da Renamo. Para si, as pessoas devem ter a consciência de que esta força política terá o seu fim no dia em que a Renamo voltar a participar em eleições. Sobre a elevada taxa de abstenção nas recentes eleições autárquicas, Dhlakama entende que tal situação resulta dos apelos feitos pelo seu partido para que as pessoas não fossem votar, uma vez que tal acto se traduziria na continuidade do actual regime da Frelimo. Na sua opinião, uma participação dos três maiores partidos do país ditaria a derrota da Frelimo.

Guebuza vai abandonar a presidência

 

Relativamente à saída ou não do Presidente da República do cargo, o líder da Renamo foi também categórico afirmando que Guebuza irá deixar a presidência, pois do contrário será morto. “O que Guebuza pode fazer é tentar impor a sua influência, tentar pôr uma Teresa ou uma Maria qualquer que lhe vai obedecer e que quando for eleita não venha a levar Guebuza para a prisão por causa dos roubos”.
Convidado a dirigir-se aos elementos das forças governamentais, Dhlakama aconselhou-os a abandonar a luta contra a Renamo “porque é uma acção sem justificação”. “Todos os militares sabem que aqui em Sathunjira fogem 30 a 40 elementos por dia. Na Casa Banana, em Muxúnguè, mesmo na ponte do rio Save, 20 a 30 desertam por dia. Outros vão presos, outros largam as armas (…) porque não entendem porque estão a morrer”. Entretanto, apesar deste apelo, Dhlakama assegura que o país não está em guerra civil.

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