Eleições gerais: “houve batota, sim”

 

“Quando um observador eleitoral nos incentiva a preencher os boletins não utilizados durante o processo de votação, a favor de um dos concorrentes, e depois os depositamos nas urnas… isso nos ultrapassa totalmente” – desabafo de um membro das mesas de voto, no distrito municipal de Chókwè, província de Gaza.
A fonte, anónima e perfeitamente identificada, diz que apesar da “ajudazinha” dada, não são considerados os que tomam este tipo de atitude.
Considera que o pecado mortal da RENAMO, Resistência Nacional Moçambicana, em todo este processo eleitoral, foi não ter colocado elementos seus nas mesas de votação e aponta um caso que considera caricato.
Na assembleia onde se encontrava, a RENAMO esteve representado por um “miúdo” que nestas eleições apareceu pela primeira vez, já com a idade eleitoral.
Durante o processo, o referido “miúdo” não percebia nada do que estava a acontecer, em muitos casos “a leste” de tudo e de todos, o que teria fragilizado o partido que representou.
Aliás, segundo ele, o enchimento de votos, por “orientação” dos observadores, aconteceu na presença deste elemento “miúdo” da RENAMO, mas também do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), os quais receberam 20 votos para os seus partidos.
Só para a FRELIMO, Frente de Libertação de Moçambique, diz o mesmo indivíduo, foram depositados “enchidos” 105 boletins de voto, de eleitores que não foram votar.
“Os boletins foram, inicialmente, assinados por um lápis no lugar destinado à votação e só mais tarde é que foi utilizada a esferográfica, a favor da FRELIMO e de Filipe Jacinto Nyusi”, anota a referida fonte.
Acrescenta que, o mais engraçado, é que na sexta-feira (17), quando os membros das mesas de voto foram para receber os seus subsídios, enfrentaram imensos dificuldades, acabando, a nossa fonte, por adiar para esta semana. “Não somos valorizados”, lamenta.
Num outro desenvolvimento: “o surgimento de um político opositor, em Chókwè, significa o enforcamento do mesmo, pelos militantes da FRELIMO, que não aceita nenhum outro elemento que não seja de outras cores partidárias”.
Mesmo assim, a RENAMO receber, numa das mesas de voto, cinco nomeações. “Acredito que em toda a Província de Gaza, a RENAMO e Dhlakama não tiveram mais do que 10 votos”, especula.
Afirma não compreender a razão do “medo” da FRELIMO, uma vez que Gaza está e esteve sempre consigo, isso aliado à constante “roubalheira” que tem engendrado.
Critica, em tons violentos, o método de selecção dos membros das mesas de voto, em muitos casos talhos de amiguismos e de familiaridade.
“Daí o fraco desempenho”, avisa, apontando culpas ao Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).
Uma professora, também membro das mesas de voto, na Macia, Gaza, conta o episódio de uma rapariga que teria ficado surpresa por estar no processo, depois de uma parente a ter convidado a reunir documentação para uma certa tarefa. “Ela viria a saber, mais tarde, tratar-se do processo eleitoral”, indica esta professora.
“Isto”, acrescenta, “justifica os atropelos gritantes verificados um pouco por todo o lado”.
Na vila municipal da Macia, uma jovem foi detida, por ordens do STAE local, depois de esta ter cometido um erro entretanto por si corrigido a tempo de ser tornado público.
salvador raimundo
EXPRESSO – 20.10.2014

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