O ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane ameaçou esta segunda-feira convocar protestos “cem vezes piores”, caso continue o que considera ser uma “perseguição política” contra os seus apoiantes. A declaração surge um dia após um dos seus aliados ter sido baleado no centro de Moçambique.
“Queremos alertar o Presidente da República, que foi colocado no cargo pela Unidade de Intervenção Rápida [UIR], de que esta é a sua última oportunidade. Se houver mais uma vítima, acionaremos o ‘Turbo V24 Ultra’”, afirmou Mondlane, referindo-se a um termo que usa para classificar diferentes níveis de protesto. “Estamos apenas à espera de mais um ferido ou um morto. O que viram até agora será multiplicado por cem”, advertiu, durante um comício realizado em Quelimane, província da Zambézia.
O pronunciamento surge na sequência do ataque a Joel Amaral, músico e apoiante próximo de Mondlane, autor de canções que mobilizaram apoiantes nas campanhas para as autárquicas de 2023 e as presidenciais de 2024. Amaral foi baleado por indivíduos desconhecidos no bairro Cualane 2.º, na cidade de Quelimane, e encontra-se agora sob cuidados médicos intensivos.
Segundo Palmira Nascimento, porta-voz do Hospital Central de Quelimane, “a lesão foi superficial, localizada ao nível do couro cabeludo. O paciente foi encaminhado ao bloco operatório, onde se realizou uma limpeza profunda, sem que fosse detetada a presença de qualquer projétil”.
Mondlane classificou o incidente como mais um caso de “intolerância política”, denunciando ainda que “já foram mortos 47 dos nossos coordenadores”. O político afirmou que as queixas foram apresentadas à Procuradoria, mas que “até agora, a justiça não foi feita”.
Desde as eleições de 9 de outubro, cujos resultados contesta, Mondlane tem liderado uma forte onda de protestos, considerada a mais intensa desde a introdução do multipartidarismo em Moçambique, em 1994. As manifestações, segundo organizações da sociedade civil, resultaram em cerca de 390 mortos em confrontos com a polícia, além de saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.